segunda-feira, 17 de maio de 2010

Spoiler: ela morre.

Ali só existia luz e alegria, o seu riso ecoava e dava-lhe energia para mais. Dançava e brincava, possuida por uma liberdade a que não sabia dar valor. A sua imaginação criara uma realidade perfeita o suficiente para a enganar. Brincava sozinha imaginando amigos nas sombras e reflexos dos espelhos que limitavam a sua existência.
Um dia, a área pré-frontal do seu cérebro desligou-se e ela percebeu que estava presa na imagem que tinha criado do mundo. Olhou à sua volta e viu o seu próprio reflexo nos espelhos, olhou a imagem da realidade que tinha criado e chorou por ter vivido tantos anos enganada na sua mente fértil e infantil. A revolta inundou o seu espírito e num acto de desespero quebrou todos os espelhos com os punhos cerrados. O sangue de menina inocente pingava e manchava o vestido branco. O cabelo despenteado colado à cara pelas lágrimas dava-lhe um ar de louca, a imagem assustava-a e num novo impulso quebrou o resto dos espelhos. No fim, quando à sua volta jaziam apenas cacos, respirou fundo e sorriu ao ver o novo mundo que tinha para viver.
Rapidamente percebeu que neste mundo a luz era escassa, bem como a alegria e que raras vezes o seu riso ecoava. Os amigos não eram de fiar e havia sempre segundas intenções por detrás de cada atitude. Estava presa a um novo mundo, um que não podia controlar e um de que não podia fugir. Arrependeu-se de ter quebrado as paredes que a protegiam da realidade, desejou poder voltar atrás, chorou e pediu a quem passava que a ajudasse a voltar a ser a pessoa que era antes. Correu suja e descalça pelas ruas e gritou assustada ao deparar-se com novas aterradoras realidades. No auge do desespero, perseguida pelas sombras que vivam na sua mente, não viu o fim do molhe onde rebentavam as ondas violentas e segundos antes de perder a vida, respirou fundo e sorriu,  tinha encontrado a calma e o silêncio.

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