quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A História da Batata Honrada

Era uma vez uma batata. Esta batata chamava-se... Esperem. Não posso dizer o nome dela. E não vou inventar um nome e atribuir-lho. Ela não ia gostar. É uma batata, é suficiente para a sua identificação. Ora então recomecemos.
Era uma vez uma batata. Quando as pessoas começam a contar a sua história e ela anda por perto enfurece-se rapidamente. Isto porque não há ninguém que não pergunte: "Então mas era uma batata quê? Cozida, frita, de pacote...?". De pacote... Que bela forma de insulto. Era lá agora de pacote! 100% natural, ora bolas! Não era como as outras batatas que andam por aí hoje em dia e... Bem, calma. Já lá vamos.
Esta batata não suporta que lhe perguntem que tipo de batata é. É uma batata, poças! Que mania de a quererem arrumar num qualquer estereótipo ingrato. Era o que era, tinham que a aceitar como tal.
Para batata tinha um feitio muito complicado. Desde muito nova que possuía ideias muito próprias e os seus pais não a percebiam. À medida que foi crescendo e conhecendo outras batatas o seu sentido crítico acentuou-se. Tinha conhecido cada uma... No fundo eram todas iguais. Existiam aquelas com origens humildes cuja maior ambição era acabar onduladas dentro de um pacote colorido, outras preferiam ser lisas e não ter sal (alguém lhes terá dito que engorda). Existiam muitas outras com ambições semelhantes. O pior para uma batata era acabar congelada num saco com um M por fora. Era sinónimo de uma vida muito triste. Passavam anos congeladas e de repente, a única vez que sentiam um pouco de liberdade, era enquanto eram fritas num óleo sujo por onde já tinham passado tantas outras, salgadas à bruta, segundos antes de serem comidas por amontoados de colesterol em forma de seres humanos.
Ora a nossa batata achava isso ridículo. Porque é que alguém haveria de chegar a esse ponto? Porque é que todas as batatas suas conhecidas, sem excepção, ansiavam por ser comidas por qualquer pessoa? Era estúpido! Por isso esta batata não queria ser como as outras que se deixam comer por qualquer um! Esta batata tinha ideias e princípios. Esta batata tinha valor e não ia deixar que lhe sugassem o amido assim por dá cá aquela palha!
Até que um dia... Um certo agricultor lhe deitou a mão. Lavem lá essas mentes com sabão azul, não foi nada disso que estão a pensar! O jovem agricultor tinha as mãos macias e as unhas pequenas, tinha meiguice nos gestos e a sua pele tinha um aroma fresco e acolhedor, eram as melhores mãos que já tinha visto! Não era uma batata com muita experiência, mas pelas histórias que ouvia pensava que os agricultores eram todos rudes, brutos, lambões e com mãos grossas e ásperas… Aquele tinha as mãos que lhe aqueciam os sonhos nas noites frias da rega dos terrenos, era aquilo que ela queria! Começou a imaginar como seriam os seus lábios, a sua língua, os seus dentes… Será que a primeira vez que for trincada vai doer muito? Secalhar a língua macia atenua um bocado a dor… Sem falar da saliva, dizem que torna as coisas mais… Naquele momento soube logo: quero que ele me coma!
O pequeno agricultor pegou nela com muito cuidado e correu felicíssimo a gritar: "mããe, mããe! Botei as mãos à terra e achei uma batata! É redondinha! Bou já botá-la no meu quarto." Bem, a batata estranhou tamanha alegria em contar à mãe, mas depois lá percebeu que ele também tinha tido sonhos em noites frias (será que também lhe regavam a cama?). Na manhã seguinte, a batata acorda bem cedo e repara que o agricultor ainda está a dormir. "Ontem parecia maior…" – pensou ela. "Mas estes humanos são estranhos, secalhar em vez de crescerem, diminuem! É melhor que ele me coma rápido antes que desapareça!" Lá esticou as peles para ficar bem bonita e roçou-se no naperon onde o agricultor a tinha pousado para ficar brilhante, como as maçãs fazem. O agricultor acordou, pô-la na mochila e saiu de casa, "xau mããe! 'Té logo, bãnho co Bítor!" A batata achou isso estranho mas pensou que ele até podia ser um estudante de culinária e que a ia regar com os melhores molhos de especiarias. Sentiu-se tão especial que quase lhe nasceu um grelo de felicidade!
Quando chegou estava tanto barulho! Começou a ficar nervosa quando viu que em vez de panelas e frascos de especiarias havia bonecos e boiões de tintas: aquilo era um jardim de infância! "O que vão fazer comigo aqui?" – estava a entrar em pânico! Até que quando a professora diz para cortarem as batatas ao meio e fazerem delas carimbos, a pobre batata desmaiou e ficou logo mais mole…
O agricultor a quem ela se decidiu entregar depois de tanto tempo isolada debaixo da terra era na verdade um rapazinho que só queria brincar com ela para depois a deitar no lixo para apodrecer junto das abóboras. Ela escolheu-o pelas suas mãos macias e inocentes, não dando ouvidos às suas amigas quando estas lhe diziam que mãos rudes não indicam bocas brutas! Simplesmente têm mais experiência e sabem como te arrancar da terra, como te descascar e como te cozinhar de maneira a ficares ainda mais apetitosa…

Moral da história: Batata honrada devia ter ouvidos em vez de grelos.

Parceria entre R?+@ e xumé

O colectivo

Ouçam-me pobres jovens iletrados, o fim está próximo! O fim da monotonia, claro está. Chegaram de longe e demoraram. Um grupo heterogéneo de jovens que aqui está para mudar a vida de muitos ou de muito poucos. Uma trupe de aprendizes de escritor que vos veio então chatear.

Apresentando o Colectivo:
Pedro - A chuva molhada
Salomé - Mind, Body and Soul
Rita - Girls of Power & "Para estranho basta o mundo real"
Leonor - Girls of Power
- Apetece-me morrer

Acompanhem-nos então na saga pelos Mundos mentais de cada um destes jovens meios tresloucados com muito ou muito pouco para vos dar ou ensinar.

Sem delongas,
O idealista.