segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Era uma vez uma novela mexicana

A noite estava quente e a cidade pulsava com vida e animação. Os grupos de jovens sucediam-se uns aos outros sem chamar atenções. Eles os cinco (sete se contarmos com as duas garrafa de whiskey) não eram excepção. Tudo parecia correr sobre rodas até que no fim da noite, Miguel olha para trás, por entre o ar enevoado e o vento que se faz sentir só no seu equilíbrio e se depara com o seguinte espectáculo: Ricardo, depois de ter bebido sozinho uma garrafa de whiskey, olha de forma lenta, demorada e eufórica na direcção de Mauro. Nessa altura percebe que as duas meninas que os acompanhavam desapareceram à primeira oportunidade (consegue vê-las ao longe agarradas a um rapaz alto e bem disposto... A sua cara não lhe é estranha). Ricardo continua a olhar para Mauro enquanto este acaba de beber a última garrafa, de um só trago. Miguel percebe o que se vai passar a seguir mas não quer acreditar.
Ricardo atira a garrafa ao chão e manda um murro a Mauro. Não há surpresa da parte de Miguel - o mesmo não se pode dizer de Mauro. Este levanta-se cambaleante do chão (o vento também o ataca) e olha com ar ameaçador para Ricardo que não consegue esconder o seu imenso sorriso de satisfação. Miguel pensa para si que durante toda a noite andou enganado, convencido de que eles poderiam ser amigos. Não podia estar mais errado. Nem ele sabia até que ponto.
Enquanto Mauro luta para descobrir um fio condutor no seu pensamento que lhe permita discutir com Ricardo este empurra-o contra a parede e dá-lhe um beijo longo e demorado. As pessoas passam na rua nessa quinta-feira em Coimbra, em frente ao TAGV. Enquanto Mauro, sem reacção, conhece um novo aspecto das relações inter-pessoais dos jovens, todo o seu curso passa por ele. Caloiros, doutores, veteranos... Havia jantar de curso e dirigiam-se todos à AAC. O choque inicial espalha o silêncio por entre o grupo maioritariamente trajado. Como se não bastasse, todas as raparigas bonitas de Coimbra e arredores decidem ir ao TAGV tomar café. É nessa altura que Margarida se depara com a cena bizarra que se desenrola perante um público cada vez maior e mais animado.
Não tarda para que se comecem a ouvir aplausos e assobios. Margarida apercebe-se nessa altura de que Miguel está na fila da frente, um tanto ausente psicologicamente. Dirige-se a ele, puxa-o por um braço e senta-o num canto de onde continuam a ver a cena.
Quando o beijo parecia nunca mais acabar, Ricardo percebe que perdeu controlo sobre o seu consciente e olha em pânico para a assistência e para Mauro. Este ainda não conseguiu encontrar um único neurónio funcional... O olhar de Margarida e Miguel cruza-se e ele foge para o TAGV. Deixando Miguel nas escadas, encostado à parede e tapado com uma capa, Margarida corre atrás de Ricardo, tentando evitar que ele se feche numa casa-de-banho e corte os pulsos.
Ao entrar no TAGV, Margarida percebe que vai ter de entrar na casa-de-banho dos homens. Oh well, não se deixa um amigo a definhar numa casa-de-banho só porque as regras sociais dizem que não se deve entrar em determinado sítio. Ricardo não está lá. Margarida sai e corre para o telhado mesmo a tempo de impedir que Ricardo decida terminar com a sua vida e salte. Depois de um abraço silencioso e palavras de paz e conforto Ricardo pára de chorar e enrosca-se num canto. Aparece Leonardo, o seu amigo viajante que por acaso tinha voltado nesse dia e chegara a tempo de assistir a toda a cena. Ricardo não consegue aguentar mais e confessa-lhe todo o seu amor e desejos reprimidos. Leonardo por fim admite que nunca teve namorada, era tudo uma grande mentira para encobrir a sua homossexualidade. Olham um para o outro, sorriem e Margarida percebe que é altura de ir. Nas suas costas o par abraça-se e beija-se.
Cá em baixo Mauro ainda não encontrou dois neurónios funcionais e também ainda não largou a garrafa vazia. Margarida chega a tempo de o ver olhar para ela com ar perdido. Miguel está no mesmo sítio, a dormir tapado e agarrado à capa, a sorrir. Com alguma dificuldade Margarida e Miguel conseguem meter Mauro num táxi. Cerca de cinco euros depois atiram-no para a banheira. Margarida ajuda Miguel a deitar-se e tapa-o. Ele adormece e ela vai para casa. Pelo caminho pensa nas voltas que a vida dá e remata com o pensamento "Eu sabia. Acerto sempre". A Lua Cheia está laranja apesar da hora adiantada da madrugada e o vento quente acalma-a. Não lhe apetece ir para casa mas sobe a rua consciente de que se vai deitar e dormir. Amanhã quando acordar há mais uma aventura para viver.

The End

1 comentários:

Salomé Gonçalves disse...

Bem, o teu fim-de-semana foi mais animado que o meu... =P